Aproveitando a extensão da ilha de Philae, dedicada desde tempos remotos ao culto de Ísis, a força feminina geradora da espiritualidade na consciência do homem, veremos como a mulher ocupava um lugar privilegiado na hierarquizada sociedade egípcia.
O universo egípcio estava fundamentado na dualidade, no masculino e no feminino, iguais entre si, responsáveis por gerar a ordem, em meio ao caos, responsáveis por tornar o mundo cada vez mais perfeito, para depois conservá-lo assim, eternamente.
Os sacerdotes, do Olho de Hórus, ensinaram ao seu povo, que o DEUS ÚNICO, o que está em todas as partes, tem uma parte masculina, a sabedoria com a informação absoluta, e uma parte feminina, a substância homogênea, com o amor infinito.
No topo do seu ordenado mundo divino, Atum, como era chamado esse Deus Único, sabedoria absoluta, mesmo antes da manifestação do Universo, já tinha uma parte feminina chamada Nun, que era a substância virginal, a matéria não diferenciada e homogênea, as águas ancestrais, o amor infinito.
Atum e Nun, a dupla original, que se encontrava em repouso, ativa sua vontade divina, terminando o equilíbrio existente, ao fazê-lo, transformam-se em Ptah e Sehkmet, o mesmo Deus Único, porém, com outras características distintas, pois sua própria vontade o pôs em movimento.
Ptah, a parte masculina do Deus Único, emite a informação criadora, e Sehkmet, a parte feminina, a gera em sua substância de amor, manifestando-se o Fiat Lux, que é a energia e a substância radiante em movimento.
Ptah e Sehkmet são o fogo multiplicador de tudo o que foi criado, eles geram outras duplas de divindades criadoras, as forças fundamentais, que foram chamadas Neters, a extensão da causa primeira, em um Universo divino. A ação deste fogo radiante sobre si mesmo, sobre a substância amniótica original, gera Tefnut, a evaporação úmida, e Shu, o ar em movimento. Esta dupla divindade, Tefnut e Shu, o vapor e o ar em movimento, ajudam a modificar o espírito original, tornando-o denso, fazendo com que se materialize ao ser acionado e gere uma nova dupla, Jet, a terra, e Nuth, o céu.
Desta forma, foram criados os mundos diferenciados no espaço, os reinos minerais, sob forma de sóis e planetas, os sistemas solares e as galáxias.
Neste mundo divino nascem outras duas duplas, Osíris e Ísis, Seth e Nephtys. Estas duas duplas de forças fundamentais em oposição se encarregam do processo evolutivo de todas as formas materiais do Universo, para transformá-las novamente em espírito. Assim, pela ação das divindades criadoras, a matéria original se transforma.
Diversas combinações matemáticas produzem diferentes estruturas vibratórias, fazendo surgir nos planetas, o reino vegetal, estacionário, e o reino animal, em movimento.
Depois, em outro ato de criação, o Deus Único gera seu filho, a consciência do homem, e outra dupla, desta vez humana, formada por um homem e uma mulher com capacidade de multiplicar-se. Ao fazer isto, Ptah e Sehkmet, a dupla que cria o universo, transforma-se em Amom e Mut, os princípios masculino e feminino do Deus Único, quando cria o homem. Foram feitos a sua imagem e semelhança, com a capacidade de criar em sua mente, de modelar e construir. Tem livre arbítrio, para que ao compreender os resultados de suas decisões, se tornem sábios, um processo evolutivo que leva muitas vidas.
A estrutura egípcia do universo divino e humano estava fundamentada na dualidade, por tudo isso, a mulher, com sua amorosa presença, tinha um papel muito importante na sociedade, desde a rainha do Egito que gera o faraó, às sacerdotisas dedicadas ao culto de Ísis e Hathor, e até a mais humilde mãe do mais simples trabalhador, eram respeitadas e consideradas iguais aos homens.
A ilha de Philae era dedicada a Ísis, a figura que, como mãe de Hórus, simbolizava a maternidade, Ísis ocupava no coração dos egípcios o mesmo lugar que hoje ocupa a Virgem Maria, no coração dos católicos. Após milhares de anos, ainda restam centenas de suas esculturas, em muitas delas, Ísis aparece dando proteção e amor materno, a um Hórus recém-nascido, em uma pose que qualquer católico identificaria com a mãe de Jesus.
A ilha recebia as iniciadas e sacerdotisas dedicadas ao seu culto, em uma sociedade igualitária, centenas de mulheres, chamadas Hemwet-Neter, eram responsáveis pelo treinamento musical, cantos, bailes e pelo toque do sistro durante os rituais em todos os templos do Egito.
Ísis é a personificação da maternidade dedicada, da fidelidade e da delicadeza feminina. Ísis fornece a substância, as emoções superiores, o êxtase, a intuição que, com o acúmulo de amor e verdade, torna possível a geração de Hórus, que era a consciência imortal e permanente.
Ísis é a força que leva o homem à espiritualidade, em todas as suas reencarnações, enquanto vai abandonando aos poucos sua animalidade original e transformando-se em um ser respeitoso, flexível e sábio, esse ser vai em direção à consciência permanente, simbolizada por Hórus, seu filho imortal.
Ísis é a matriz desta consciência permanente, ela gera no mundo interior de todo homem as emoções superiores, fazendo elevar sua freqüência de vibração. Ísis manda desde as dimensões superiores em direção à consciência a inspiração que produz as idéias e que dão lugar às artes. Ísis impulsiona a busca e o reconhecimento de Deus, e impulsiona o caminho à espiritualidade, fazendo com que cada homem, livremente, em seu interior, possa sentir a emoção superior de adorá-lo, o que o levará ao êxtase.
A esta força maternal do Universo, foi dedicada a ilha de Philae, uma ilha granítica no centro do Nilo, situada imediatamente após a primeira catarata, ao norte da Núbia, na fronteira entre o reino egípcio e o reino cushita.
Philae quer dizer ilha ou montículo sobre as águas, que emergiram no tempo de Rá, este nome sugere o uso sagrado deste lugar, desde a mais remota antiguidade.
Durante milhares de anos, os templos ali localizados serviram como ponto da divulgação da cultura, da religião e da arte egípcia, em direção a Núbia e ao Sudão.
As ruínas mais antigas se encontram no canto sudeste, ali existia um pequeno templo núbio, orientado para a estrela canopus, e dedicado a uma divindade chamada Mandulis. O templo foi destruído em algumas das antigas guerras entre egípcios e núbios, ao lado de suas ruínas, os núbios construíram outro templo dedicado a Arensnuphis, esse é o nome que deram a Osíris, o companheiro de Ísis.
Os egípcios passaram a controlar a ilha e construíram um primeiro templo dedicado a Ísis, no ano 1250 a.C., Ramsés II deixou um marco em que afirma tê-lo reconstruído, o faraó Tarrarca faz o mesmo no ano 680 a.C., e 120 anos depois, no ano de 560 a.C., o faraó Amasis mandou talhar as imagens de seu pilono, 300 anos mais tarde, no canto sul, Nektanelo construiu um pequeno templo, no ano 250 a.C., os faraós Ptolemaicos, herdeiros de Alexandre Magno, decidiram reorientar o eixo do templo em 21º, para enfocar novamente a estrela canopus que tinha se deslocado com o movimento do sistema solar.
Os templos estelares eram desmontados e reconstruídos a cada 300 ou 400 anos, para enquadrar a estrela que estudavam, pois o movimento do sistema solar pela galáxia a tirava da orientação dos pilonos.
O templo deveria ser inteiramente desmontado para adequar-se ao novo eixo, mas nestes tempos finais, os Ptolomeus estavam mais interessados na Grécia e Macedônia, por suas rivalidades com os outros reis helênicos, com quem Alexandre Magno dividiu seu império.
Sua localização em uma ilha tornava este trabalho ainda mais difícil, por isso, decidiram construir um templo, com um segundo pilono, que enquadrasse adequadamente a abóbada celeste, sem modificar o templo.
Alexandria tinha se tornado a capital do Egito e o grego seu idioma oficial.
No ano 31 a.C., Cleópatra VII, foi derrotada na batalha de Actium, com o seu suicídio, o Egito caiu nas mãos de Otávio, que se converteu em Augusto, o primeiro Imperador Romano.
Os Imperadores Romanos construíram outros templos em Philae. Trajano começou a construção de um pequeno templo que nunca foi terminado, seus capitéis representam um feixe de papiros, sobre os que ainda se encontram uns cubos de pedras que nunca chegaram a ser talhadas com a imagem de Hathor.
Philae foi um dos últimos lugares em todo o Egito, onde permaneceram os sacerdotes, dedicados ao culto antigo.Ali surgiram seitas gnósticas, que mais tarde, com o nome de Rosa Cruzes e Maçons, manteriam em segredo os conhecimentos egípcios.
No ano de 553 d.C., a ilha, um dos últimos bastiões do chamado paganismo egípcio, foi dedicada a Santo Estevão e a Virgem Maria, por um decreto do Imperador Justiniano.
No século X, a ilha de Philae foi submersa pela represa de Assuahn, com fundos da Unesco, o templo e as demais construções foram desmontados peça a peça, e reconstruídos na ilha Alguikhia, a qual se deu a forma da ilha original.
O templo foi orientado da mesma forma que o original, a 76,5º sudoeste, com o intuito de focalizar os movimentos da estrela canopus sobre o pólo sul, esta é a mesma estrela a qual estava orientado o templo de Edfu. Originalmente, as duas torres do pilono enquadravam canopus, a estrela polar do sul, aos 15º sobre o horizonte, durante milhares de noites. Uma nova confirmação de que todos os templos egípcios estavam orientados para uma estrela, ou para o sol.
Do Nilo, já se vê a imponente construção, com os dois pilonos, que formam o grande pátio interno e a extensa colunata, que forma um pátio que termina em frente ao pequeno templo de Nektanebo.
O grande pátio externo tem uma forma de trapézio pela disposição de uma colunata dupla, formada por 32 colunas construídas em um ângulo que se abre em direção ao templo, produzindo uma ilusão de maior profundidade. As colunas, e um extenso muro, que tem a distâncias regulares, uma série de janelas que se abre para o Nilo, formam um imenso corredor, todas as colunas são diferentes, como um conjunto de papiros, seus capitéis floreados de cores vivas, tinham diferentes formas.
As mulheres se iniciavam como sacerdotisas nos templos dedicados ao culto das divindades femininas como Ísis ou Hathor, eles educavam as responsáveis pela música e pela dança, que acompanhavam os rituais e todos os templos do Egito.
As mulheres dedicadas a musica, chamadas de Shemayet podiam também servir as divindades masculinas e também se transformam em escribas. Mas era a mulher a encarregada de tocar o Sistro, cujo som acalmava as divindades e permitia que a mente do homem descansasse.
Há sacerdotisas dedicadas a Hathor, divindade que representa a sexualidade feminina, o amor, a música, a dança, e cujas festividades eram de embriaguez, origem das festas dedicadas a Baco, e tinham outras funções sociais, elas traziam a fertilidade e ensinavam as artes do amor aos homens que iam casar, para que aprendessem a dar prazer à futura mulher.
A leste, sobre a colunata do grande pátio, encontra-se um pequeno templo dedicado a Imhotep, o sumo sacerdote, que construiu a pirâmide escalonada de Saqqara, e deixou os planos e desenhos dos templos de Dêndera e Edfu.
No primeiro pilono, assim como na maioria dos templos, está talhada a figura do faraó, neste caso, Ptolomeu XII golpeando com sua vara de poder os chamados nove inimigos do Egito. Era uma espécie de superstição gráfica simbólica, que mantinham afastadas as forças do caos, e proclamava a vontade do faraó, mediador entre o homem e a divindade, de manter a ordem no Egito e em todo o cosmo. O confronto entre a ordem e o caos é uma mostra da maneira dual como os egípcios encaravam o Universo.
Assim, também o país tem duas regiões, o grande vale do Nilo, chamado de Alto Egito, e o Delta em que abre quando chega ao Mediterrâneo, chamado de Baixo Egito.
O faraó unificava essa dualidade, usava duas coroas para indicar seu domínio sobre essas duas regiões, assim, também unia o humano com o divino, pois seu corpo era tido com o molde que continha o Ka Real, um espírito responsável pelo Egito que reencarnava de faraó em faraó. Por isso, o faraó, o mais importante de todos os egípcios vivos representava o nível de consciência alcançado pelo povo durante seu reinado, era como um Deus menor, ao ser sempre a reencarnação do espírito designado por Deus, para manter o Egito organizado.
O novo pilono também tem dois mastros, onde ficavam as bandeiras, suas duas torres deveriam ser simétricas, unidas em um pórtico, no entanto, em Philae a torre esquerda tem uma porta que leva diretamente a capela dos nascimentos, posteriormente, no período da iluminação romana, um pórtico foi anexado ao primeiro pilono.
Nesta capela celebrava-se o nascimento das divindades e de seus filhos, o Hórus e a maternidade de Ísis, nas datas em que sua representação no céu, Sírio, reaparecia anunciando o novo ano, o solstício de verão e a enchente do Nilo. A capela dos nascimentos, com suas colunas atóricas, substituíam o templo principal como observatório astronômico, antes dos romanos construírem as colunatas que dão forma ao pátio trapezoidal.
Nenhuma sociedade deu às mulheres o valor dado pelos egípcios, sua sociedade era igualitária, isto se devia a sua concepção filosófica de Deus, em ações legais, no entanto, não houve nenhuma mulher em função administrativa, eram os homens os encarregados da manutenção da ordem, era o faraó quem governava, e eram homens os oficiais que administravam o império.
Existe uma lenda que afirma que o direito ao trono era transmitido através da linha feminina, que era a princesa real a herdeira legal do trono, o homem por ela escolhido como marido se convertia no faraó reinante. Isto obrigaria todo rei, sem importar que fosse o filho de seu predecessor, a ter que legitimar seu direito ao trono casando-se com sua irmã ou meio-irmã.
No entanto, não existe uma linha direta de herdeiras que confirme esta lenda, sabe-se que os faraós eram polígamos, e que as esposas principais de Tutmosis III, Amenotep II, e Amenotep III, não eram de família real.
Na realidade, os faraós do Egito que se casaram com irmãs ou meio-irmãs, o fizeram com o intuito de imitar as divindades, como Ísis e Osíris, ou Seth e Nephtys, eram irmãos e ao mesmo tempo cônjuges. Ao casar-se com sua irmã ou sua filha, o faraó se distanciava dos súditos, que nunca se casavam assim, e se colocava ao nível das divindades, reafirmando seu direito divino de reinar.
Uma mulher faraó não era uma alternativa normal no Egito, a faraó Hatsepsut chegou ao trono como regente de seu enteado Tutmosis III, filho de seu marido e meio-irmão Tutmosis II, com outra mulher, uma vez no poder, ela se vestiu como homem e assumiu o poder do faraó.
Após seu reinado, sua imagem como faraó foi sistematicamente apagada dos registros, para eliminar da memória uma mulher que se apoderou do trono de forma imprópria, no entanto, suas imagens como rainha ainda continuam intactas.
Em apenas quatro ocasiões, durante os trezentos reinados, as mulheres se transformaram em faraós do Egito, por razões extraordinárias e como último recurso de suas famílias para tentar manter a ordem.
A primeira foi a rainha Nitiriket, que reinou no final da VI dinastia, e começo do caos, que hoje se chama de primeiro período intermediário, a segunda foi Nefruzophk, em situação semelhante ao final da XII dinastia, a terceira foi Dausreth, que reinou depois do caos causado por Moisés, com suas dez pragas, quando seu marido, Seti II, morreu afogado cruzando o mar vermelho, e a quarta foi Cleópatra, que matou o seu irmão, antes que o Egito se transformasse em província romana.
Todas tinham em comum ser rainhas do Egito por ter se casado com o faraó, e chegar ao trono pela morte dele, em circunstâncias extraordinárias.
Os sacerdotes podiam se casar, mas só lhes era permitido uma mulher, os demais homens, incluindo o faraó, podiam ter quantas quisessem, ainda que a maioria optasse por apenas uma.
No Egito existia a separação legal, em caso de fracasso do casamento, o homem era obrigado a devolver todas as propriedades e riquezas que a família da mulher havia dado em dote, mais uma parte das suas, para os filhos que tivessem tido, para isso, somente tinham que dizer, perante o sacerdote do templo, e testemunhas das duas famílias, as seguintes palavras: eu me separo de ti como mulher ou marido, e me afasto de ti para sempre, renuncio aos meus direitos sobre ti, que a vida te dê outro companheiro ou companheira, no lugar a que queira se dirigir.
Cruzando o novo pilono chega-se ao pátio das galerias, agora rodeado pela fachada original do templo, o corredor direito com suas dez colunas, e ao lado esquerdo, a nova capela dos nascimentos.
Neste pátio encontra-se o marco com o cartucho de Ptolomeu e Cleópatra, que serviu a Champolion, para decifrar o decreto escrito em hieróglifos gregos e demótico na famosa Pedra da Roseta, o decreto obrigava a render-se culto à pessoa do faraó, e como isso é interessante para entender os templos dos Ptolomeus, quando este templo foi restaurado, vamos dar um resumo a seguir:
“Decreta-se que todo templo do Egito deve destinar, em seu interior, ao lado dos santuários dos Deuses, um lugar que mantenha uma imagem em ouro do eterno Rei Ptolomeu, amado de Ptah, o Deus Epifânio Eucaristos, diante do qual, deve-se colocar a imagem da divindade principal do templo, entregando-lhe a arma da vitória, tudo deve ser feito com o estilo egípcio, e os sacerdotes, com suas vestimentas sagradas, devem prestar adoração três vezes por dia, realizar todos os rituais em sua honra, e nas festividades egípcias, carregá-los nas procissões, como fazem com os outros Deuses”.
Para os sacerdotes egípcios, o homem é um animal, até poder controlar conscientemente as condutas automáticas geradas pelo instinto. As reações automáticas do instinto permitem aos animais e aos homens ignorantes procriar, manter e defender a vida.
A atração pelo sexo oposto impulsiona à geração da vida, os desejos são um mecanismo da natureza que indica uma carência a ser suprida para manter a vida.
O medo impulsiona a fugir ou a agredir em defesa da vida. Os iniciados aprendiam que os instintos são limitação para a realização espiritual superior.
A escola de mistérios tinha templos especializados em gerar consciência e dar o treinamento necessário para conscientização sobre tais condutas.
O instinto de agressão era controlado em templos como Kom Ombo, ali os medos eram superados pela compreensão de que nada há para temer, que a morte é apenas um passo para outra vida, aprendia-se que o medo apenas desperdiça a energia vital necessária para que se atinja a paz interior.
Há templos como o de Philae, dedicados às divindades femininas, que iam os iniciados nos primeiros níveis, para serem guiados pelas sacerdotisas do templo, de forma a tomar consciência dos desejos gerados por seu instinto de atração. O desejo permite ao homem reconhecer uma necessidade ou uma atração, produzem uma reação de agrado ou de rejeição nos centros emocionais, que por sua vez, conectam os sentimentos na mente, mas tais sentimentos são polarizados, podem ser de alegria ou de tristeza, podem produzir satisfação ou insatisfação, por isso é tão importante compreender como são formados para poder controlar os de características negativas. Os sentimentos negativos geram apatia, esgotam a energia vital e escraviza o homem às baixas freqüências de vibração.
Os egípcios acreditavam que o caminho evolutivo começa com o controle dos centros inferiores, quando essas condutas automáticas se tornam conscientes. A forma egípcia para transcender as emoções, a lascívia, e os desejos sexuais, era reconhecê-los e experimentá-los. Uma pessoa inexperiente e ingênua se descontrola facilmente, é vulnerável a situações que desconhece, e pode facilmente cair em depressão, por isso, a primeira parte do treinamento dos sacerdotes, homens e mulheres, os levavam a reconhecer seus desejos.
Aprendiam que ao ativar os centros inferiores e os sentimentos através do amor e da compreensão, o resultado para a mente é sempre de paz, harmonia e felicidade.
O templo era considerado pelos sacerdotes como um modelo do mundo no momento inicial da criação. Nesse momento, Deus manifestou o universo, emergindo um pequeno monte de terra das águas do caos, de forma similar ao que acontecia quando as águas transbordadas do Nilo se retiravam todos os anos, permitindo que o Deus criador aparecesse, trazendo vida nova ao país.
O acesso, através de uma escadaria externa, fazia com que o santuário se transformasse num montículo da criação, onde Ísis, a divindade deste templo, se manifestava dentro da estátua que a personificava, ao subir ao seu interior, chega-se a um pequeno pátio cercado por coluna, localizado no centro do chamado “Salão da Vida”, um salão suspenso com elevadas colunas.
Este salão suspenso, em frente aos espaços interiores do templo, representa o pântano no montículo original da criação, onde crescem as plantas e papiros simbolizados pelas colunas do templo. O espaço aberto central servia, às vezes, de capela onde as figuras simbólicas eram expostas à luz solar, para renovar a energia, num ritual antiqüíssimo. Aqui era homenageada a vontade do sol, por criar e sustentar o mundo, para renovar de energia as forças criadoras, as que impulsionam o processo evolutivo na consciência do homem, que devolverá a matéria a Deus.
Os muros deste espaço foram talhados para mostrar como o universo era entendido, vemos também outras talhas de numerosas cruzes cópticas, marcas da nova filosofia que chegou ao Egito, quando Philae se transformou numa igreja católica. Uma nova forma de ver o mundo, que não apenas tirou o sentido da visão tradicional egípcia, mas que também a considerou aberrante e primitiva.
O salão da vida ou Per Ankh, servia como um escritório, onde eram escritos, copiados, editados e armazenados os textos sagrados, ali eram feitas em papiros as ilustrações mestras que deviam ser talhadas nos muros dos templos.
Nos salões da vida de todos os templos egípcios, também eram feitos os papiros com as cópias dos livros dos mortos, utilizadas em seus ritos funerários.
A casa da vida era o centro de ensinamento do templo, teologia, arte, ritualismo, magia, astronomia e medicina, eram aqui ensinados. A biblioteca com os textos armazenados serviram como modelo para a biblioteca de Alexandria.
Neste salão as sacerdotisas tocavam harpa, eram entoados os cânticos, e feitas as músicas que acompanhavam todos os ritos religiosos. Os egípcios acreditavam que a música tinha uma origem divina.
Os muros dos templos nos mostram que eles usavam muitos instrumentos de percussão, tambores, flautas e os sistros, que eram fundamentais nos ritos funerários e nas procissões.
As danças, as músicas e os cantos estimulavam o criador para que a fertilidade não fraquejasse, evitando assim, que o cosmo retornasse ao caos.
As sacerdotisas também cuidavam dos doentes que chegavam ao sanatório do templo, em busca de ajuda e do conhecimento dos sacerdotes.
A música era usada como instrumento de cura espiritual e material, e as notas musicais eram usadas como medida entre a terra e os planetas.
Ao dançar adorava-se a Deus, a força do amor, a felicidade, ao baile e a música.
Em seguida, tem-se acesso ao salão das aparições, que neste caso, não é suspenso, o tradicional salão aberto para o exterior, para receber as oferendas do povo.
Seus muros contêm cenas que, como em todos os templos do Egito, não tem nenhum fundo, a interação do faraó com as divindades acontece fora do tempo e do espaço.
O templo era o cenário onde se representavam os diferentes rituais de forma dinâmica, em meio ao som musical das vozes e instrumentos, o recitar das palavras dos ritos, o cheiro de incenso em louvor a divindade, para conseguir seu apoio na continuação do Universo organizado.
Havia liturgias diárias e uma série de festividades cíclicas, onde as figuras simbólicas recriavam os ritos em cerimônias do espaço sagrado e procissões em barcas sagradas pelo Nilo, em direção a outros templos.
As diversas partes que formavam o templo eram, acima de tudo, funcionais, e demonstravam a forma como os sacerdotes egípcios entendiam o Universo, ali o rito lhes dava o poder, legitimando a ordem social de sua civilização, o rito gerava e organizava essa ordem social.
Depois, chega-se a câmara das oferendas, do seu lado esquerdo ficava o salão da barca de ouro, usada para levar a imagem sagrada nas procissões e festividades.
Saía da antecâmara uma comprida escada reta que levava ao terraço do templo, onde se realizava a cerimônia e os registros do céu, assim como nos outros templos do Egito. Talhados nas paredes desta antecâmara vê-se o faraó Ptolomeu fazendo oferendas a Ísis, tais paredes, douradas em outros tempos, pois eram forradas com lâminas de ouro, perderam quase toda cor original.
No ponto central do templo estava o santuário de Ísis, que continha em seu interior um altar de granito com a imagem de ouro da divindade. Era a estátua do culto, que era levada na barca de ouro durante as procissões e rituais.
Ísis, a virgem mãe egípcia que concebe Hórus de forma imaculada, tem sobre a cabeça um trono, uma cadeira simbólica sobre o chakra da coroa, onde se sentará a consciência permanente de todo homem, e que reinará para sempre. Ísis é a tradução grega do nome egípcio ASSET, que significa “trono da consciência”.
É muitas vezes representada com um abutre sobre a cabeça, no qual se apóiam uns chifres de vaca, sustentando um disco dourado, o abutre dedica-se tão-somente às suas crias, transforma em seu interior as substâncias em decomposição, transformando-as em alimento, em nova vida.
A vaca, que transforma a vegetação em alimento para o homem, era para os egípcios o símbolo do princípio nutritivo, seus chifres tem a forma da lua crescente, mãe dos ciclos, que sustenta o disco solar, fonte da vida e luz da consciência.
Este santuário simboliza o respeito que os egípcios tinham pela maternidade, um respeito baseado na busca da ordem e do equilíbrio, legitimava sua visão do mundo, este era o coração do espaço dos rituais, a casa da divindade onde o faraó e os mais altos sacerdotes interagiam com a divindade representando todos os homens.
As imagens talhadas da divindade permitem que torne a viver na mente de todos os que a observam, fazendo com que participem simbolicamente de seus rituais, e compartilhem suas oferendas.
Esta é a herança que os antigos egípcios deixaram à consciência de toda a humanidade, a visão de um universo dual, um lugar onde se experimentam os contrastes polares, para que se entenda a neutralidade.
Uma escola desenhada por Deus de forma perfeita, para transformar por sucessivas reencarnações um inocente em sábio, um animal em super-homem, graças a experiência adquirida a partir de suas próprias decisões.
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