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28 de maio de 2015

O mundo é dos melhores?

O Mundo é dos melhores?
É incrível como atualmente estamos obcecados com o melhor. Não sei quando essa paixão desenfreada começou, mas é notável como atualmente, só queremos saber do melhor.
Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, o melhor corpo, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho.
-O bom, que deveria ser bom, já não é mais suficiente. O melhor é sempre a grande meta. Mas por quê?
O ideal é ter o Top de Linha, aquele que deixa os outros para trás, que nos distingue e nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com o que é melhor em nossas mãos, não é?
Isso até que outra coisa “melhor” apareça e nos frustre trazendo novamente aquela vontade incontrolável de querer se desfazer do que já se tornou obsoleto.
Novas marcas surgem a todo instante, e novas possibilidades também.
E o que era melhor, de repente, parece superado, modesto, aquém do que podemos ter.
O problema é que, quando só desejamos o melhor, passamos a viver inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, uma eterna frustração, não desfrutando realmente do que já temos e conquistamos, porque estamos sempre de olho no que nos falta conquistar e ainda ter.
Cada comercial de TV nos convence que merecemos ter mais do que temos. Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros estão vivendo bem melhor do que nós, que os outros estão comprando melhor, amando melhor, se divertindo melhor e logicamente ganhando melhor do que nós, tendo um melhor emprego do que o nosso, vencendo todos os obstáculos, tendo os melhores salários e claro, sendo sempre mais bonitos (as). Afinal os outros estão à procura do melhor e eu não estou, não é?
-Afinal, o que está acontecendo comigo?
É realmente incômodo viver num mundo competitivo como este.
Não conseguimos mais relaxar.
Mesmo aquelas pessoas que supostamente parecem estar se mostrando melhores que você, no fundo estão se enganando e enganando a si próprias, pois todos estão no mesmo barco e estão vivendo o mesmo dilema. Pode acreditar, eles tem o mesmo ponto de vista que você e acreditam que você é, e está melhor do que eles.
Não relaxamos nunca, porque temos de correr atrás do melhor todos os dias, e de preferência com o melhor tênis.
Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente.
Se não posso dirigir acima de 120 km por hora, preciso realmente comprar um carro com tanta potência que chega a 300 km por hora? Para quê essa ostentação toda e esse exagero?
Se eu gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor cargo da empresa?
E aquela TV gigantesca de tantas polegadas que acabou com o espaço do meu quarto?
E o restaurante que gasto horrores e me faz sentir saudades da comida de casa, mas vou porque tem o “melhor chefe de cozinha”?
E aquele xampu que usei durante anos? Ele tem de ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro?
Será que o cabeleireiro do meu bairro tem mesmo de ser trocado pelo “melhor cabeleireiro” da cidade?
Ultimamente pensamos muito no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixados ansiosos e tem nos impedido de desfrutar o que realmente é “bom” na vida.
A casa que é pequena, mas nos acolhe. O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria.
As férias que não serão na Europa, porque o dinheiro não está dando e terá de ser no interior do estado da Bahia, mas me dará a chance de estar perto de quem amo.
O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas da minha história e da minha gratidão.
O corpo que já não é mais esbelto, mas ainda sente prazer.
-Será que a gente precisa mesmo de tanto?
Não estamos querendo dizer que o melhor não possa ser o caminho, mas o mundo está mudando e a nossa relação com os bens de consumo também.
A ânsia pelo consumo inconsequente e sem consciência está tornando o mundo um lugar insustentável tanto material, como econômica e financeiramente.
O que está acontecendo com a economia ao redor do mundo é um macro sintoma do que está ocorrendo dentro de nossas próprias casas, nas nossas famílias, nas nossas pequenas empresas e dentro de nós mesmos.
O mundo está mostrando que ele tem limites e que nós, como seres humanos, também temos. Devemos despertar para um consumo consciente imediatamente.
O grande problema é que poucos querem instituir o consumo consciente. Por um motivo muito simples.
O consumo consciente não gera lucros. Pior do que isso, ele dissolve nas pessoas a ânsia desenfreada e a esperança de poderem adquirir e possuir coisas que no fundo não tem significado algum para suas vidas, o supérfluo.
Desde o início da década de 90 e mais ainda a partir do ano 2000, muitas empresas e instituições descobriram um novo e fabuloso filão para se promoverem e então decidiram elaborar um novo plano de ação de marketing, voltado para discursos sobre desenvolvimento sustentável, ecologia, proteção do meio ambiente, mercado verde, etc. Chegaram a aprovar algumas leis “ecologicamente corretas”, porém totalmente paliativas do ponto de vista ético, pois elas nos fazem acreditar que eles estão fazendo a coisa certa e nós meros mortais, somos os culpados de tudo isso que está acontecendo no globo terrestre. Essa técnica faz com que eles (empresas) logicamente se tornem os mocinhos da história e nós os vilões.
Infelizmente há muita hipocrisia pairando no ar, não devemos aceitar tais argumentos que entram em nossas casas gratuitamente através da televisão, internet, jornais e revistas ou que estejam impressos nos rótulos de muitos produtos.
Não adianta. Eles continuam querendo que a grande massa populacional continue consumindo desenfreadamente dia após dia, mais e mais, não importa o quê e nem como, o que importa mesmo é manter a máquina funcionando e os faturamentos trimestrais avançando para que os índices das bolsas continuem crescendo.
Sim, tudo isso é importante para a economia mundial e para as pessoas, mas são somente números, estão todos preocupados somente com os números. Eles já se esqueceram que as empresas, as instituições, as máquinas e tudo o que existe, foi criado e desenvolvido para o bem estar das pessoas, ou seja, para manter as pessoas e não para manter as empresas. Essa é uma percepção muito sutil.
A pessoa, o indivíduo não é mais o foco principal, mesmo parecendo ser, o foco agora são as próprias instituições e as próprias empresas. As empresas estão preocupadas no fundo com elas mesmas e não com as pessoas que trabalham nelas ou com as pessoas que elas atendem, os seus clientes. Mesmo dizendo que sim, que o cliente é a coisa mais importante para a empresa, eles estão mentindo e se enganando, pois a preocupação não são realmente as pessoas, tão pouco são os próprios funcionários.
Vejam, se uma pessoa não é mais tão jovem ou está passando por momentos difíceis na vida, então ela não serve mais para a empresa, aos poucos ela é afastada e como se fosse uma peça obsoleta, em pouco tempo já não fará mais parte daquela organização.
-Porque estamos dizendo isso?
Para entender que tudo isso é reflexo do que está acontecendo com cada um de nós. Estamos vivendo um individualismo nunca visto antes, as pessoas só pensam nelas mesmas e passam por cima de tudo e de todos para conseguirem o que desejam, não estão preocupadas com o outro, o que importa é a individualidade e o suposto prazer momentâneo que elas possam conseguir comprando os melhores bens e os melhores serviços do mercado.
Mesmo muitas pessoas dizendo serem altruístas e caridosas e que fazem trabalhos voluntários, na maioria das vezes, e não vamos generalizar, elas fazem tudo isso para elas mesmas e não pelos outros. É algo muito sutil, mas é facilmente perceptível a individualidade e o egoísmo vibrando ao redor delas.
Estamos chegando num momento crucial no mundo, as verdades estão vindo à tona e as máscaras estão começando a cair.
Se estivermos dizendo uma inverdade, pare e olhe ao seu redor, olhe para as empresas que você adquire produtos e serviços, veja como elas estão agindo, veja como o dono da empresa dos produtos que você compra, age com seus funcionários, veja como essa empresa encara o ser humano.
Olhe para as pessoas com quem convive atualmente e depois pare e tente olhar para você mesmo (a). Tente reconhecer como você está tratando o seu semelhante e as pessoas que o (a) cercam.
O ideal neste momento de quebra de paradigmas é que cada um se interiorize e descubra qual a forma mais adequada de agir e não a melhor forma de conviver com o mundo e com as pessoas, já que é utópico demais querer acreditar num mundo fabuloso, fantástico, sem destruição, auto-sustentável e ecologicamente correto, num momento de grandes mudanças que estamos vivendo atualmente.
Vivemos dentro de um sistema urbano totalmente interligado com a grande máquina capitalista. Temos de ter consciência que estamos dentro de um processo e que este processo de transição e mudança, está ainda no início. Resta a nós deixar um legado e uma experiência de vida para nossos filhos e netos, para que eles tenham o discernimento suficiente para saber que no futuro próximo, eles também terão de fazer a parte deles.
Vamos parar de achar que temos de salvar o mundo, como se fôssemos os últimos heróis que passarão pelo planeta. Vamos fazer o que está ao nosso alcance e seguir adiante, até porque não temos nada melhor para fazer a não ser seguir em frente, não é?
Pare por um instante o que está fazendo e veja como pode agradecer pelo que tem e pelo que já conquistou em sua vida, agradeça as pessoas que lhe ajudaram um dia, pode ter certeza, você não conseguiria nada sem a ajuda delas.
Lembre-se delas sempre que puder e seja grato (a).
-Que tal começar pelos seus pais que lhe trouxeram ao mundo?
Paremos de reclamar pelo que não temos e comecemos a ser gratos pelo que já temos.
Ir à busca da gratidão da alma é sem dúvida a melhor escolha que podemos fazer em nossas vidas.
Este é o princípio da verdadeira felicidade.

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