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21 de dezembro de 2011

Obama eleva as apostas militares: Confrontação nas fronteiras com a China e a Rússia


por James Petras
Depois de sofrer grandes derrotas militares e políticas em campos de batalha sangrentos no Afeganistão e no Iraque, de fracassar no apoio a antigos clientes no Iémen, Egipto e Tunísia e de testemunhar a desintegração de regimes fantoches na Somália e no Sudão do Sul, o regime nada aprendeu: Ao invés disso ele voltou-se rumo a maior confrontação militar com potências globais, nomeadamente a Rússia e a China. Obama adoptou uma estratégia provocativa de ofensiva militar junto às fronteiras tanto da China como da Rússia.

Depois de andar de derrota em derrota na periferia do poder mundial e não satisfeito em incorrer em défices que arruínam o tesouro na ânsia de construir um império contra países economicamente fracos, Obama abraçou uma política de cerco e provocação contra a China, a segunda maior economia do mundo e o mais importante credor dos EUA, e a Rússia, o principal fornecedor de petróleo e gás da União Europeia e a segunda mais poderosa potência do mundo em armamento nuclear.

Este documento trata da escalada altamente irracional e ameaçadora de militarismo imperial do regime Obama. Examinamos o contexto militar global, económico e político interno que motivam estas políticas. Examinamos então os múltiplos pontos de conflito e intervenção nos quais Washington está empenhada, desde o Paquistão, Irão, Líbia, Venezuela, Cuba e para além disso. Analisaremos a seguir a lógica para a escalada militar contra a Rússia e a China como parte de uma nova ofensiva que vai além do mundo árabe (Síria, Líbia) e frente à posição económica declinante da UE e dos EUA na economia global. Depois disso esboçaremos as estratégias de um império declinante, criado em guerras perpétuas, confrontando declínio económico global, descrédito interno e uma população trabalhadora a cambalear desde o desmantelamento em grande escala dos seus programas sociais básicos.

A viragem do militarismo: Da periferia para a confrontação militar global 

Novembro de 2011 é um momento de grande importância histórica: Obama declarou duas importantes posições políticas, tendo ambas tremendas consequências estratégicas que afectam potências mundiais competidoras.

Obama decidiu uma política de cerco militar da China com base no estacionamento de uma armada marítima e aérea frente à costa chinesa – uma política destinada abertamente a enfraquecer e perturbar o acesso da China a matérias-primas e ligações comerciais e financeiras na Ásia. A declaração de Obama de que a Ásia é a região prioritária para a expansão militar dos EUA, a construção de bases e alianças económicas foi dirigida contra a China, desafiando Pequim nas suas próprias traseiras. O punho de ferro da declaração política de Obama, pronunciada perante o Parlamento australiano, foi clara como cristal na definição dos objectivos imperiais estado-unidenses.

"Nossos interesses duradouros na região [Ásia Pacífico] exigem nossa presença duradoura nesta região... Os Estados Unidos são uma potência do Pacífico e estamos aqui para permanecer ... Quando finalizamos as guerras de hoje [i.é, as derrotas e retiradas do Iraque e do Afeganistão]... dirigi minha equipe de segurança nacional para que assegure uma prioridade principal à nossa presença e missões na Ásia Pacífico ... Em consequência, a redução nos gastos de defesa dos EUA não será ... às expensas da Ásia Pacífico". (CNN.com, 16/Nov/2011).

A natureza precisa do que Obama chamou de "a nossa presença e missão" foi sublinhada pelo novo acordo militar com a Austrália para despachar navios e aviões de guerra e 2500 fuzileiros navais para a cidade mais a Norte da Austrália (Darwin) destinados à China. A secretária de Estado Clinton passou a maior parte de 2011 a fazer sondagens altamente provocatórias junto a países asiáticos que têm conflitos de fronteira marítima com a China. Clinton introduziu vigorosamente os EU nestas disputas, encorajando e exacerbando as exigências do Vietname, Filipinas e Brunei no Mar do Sul da China. Ainda mais gravemente, Washington está a promover seus laços militares e de vendas com o Japão, Formosa, Singapura e Coreia do Sul, bem como a aumentar a presença de navios de guerra, submarinos nucleares e sobrevoos de aviões de guerra ao longo das águas costeiras da China. Na linha da política de cerco militar e provocação, o regime Obama-Clinton está a promover acordos comerciais multilaterais que excluem a China e privilegiam corporações multinacionais dos EUA, bem como seus banqueiros e exportadores, baptizado como "Partenariado Transpacífico" ("Trans-Pacific Partnership"). Este inclui principalmente países mais pequenos, mas Obama tem a esperança de convencer o Japão e o Canadá a aderirem ...

A presença de Obama na reunião da APEC de líderes asiáticos e sua visita à Indonésia em Novembro de 2011 envolvem esforços para assegurar hegemonia estado-unidense. Obama-Clinton esperam contrariar o declínio relativo das ligações económicas estado-unidenses face ao crescimento geométrico dos laços de comércio e investimento entre a Ásia Oriental e a China.

Um exemplo recente dos esforços ilusórios, mas destrutivos, de Obama-Clinton para deliberadamente perturbar os laços económicos da China na Ásia está a ter lugar em Myanmar (Birmânia). A visita de Clinton em Dezembro de 2011 a Myanmar foi antecedida por uma decisão do regime Thein Sein de suspender um projecto de barragem no Norte do país financiado pela China Power Investment. Segundo documentos oficiais confidenciais divulgados pela WikiLeaks as "ONGs birmanesas que organizaram e conduziram a campanha contra a barragem foram fortemente financiadas pelo governo dos EUA" ( Financial Times, 02/Dez/2011, p. 2). Isto e outras actividades provocatórias e discursos de Clinton condenando "ajuda ligada" chinesa desvanecem-se em comparação aos interesses em grande escala que ligam Myanmar à China. A China é o maior parceiro comercial e investidor de Myanmar, incluindo seis outros projectos de barragens. Companhias chinesas estão a construir novas auto-estradas e linhas ferroviárias através do país, abrindo o Sudoeste da China a produtos birmaneses e a China está a construir oleodutos e portos. Há uma poderosa dinâmica de interesses económicos mútuos que não será perturbada por uma disputa ( FT, 02/Dez/2011, p.2). A crítica de Clinton dos investimentos da China, de milhares de milhões de dólares, na infraestrutura de Myanmar é um dos mais bizarros da história mundial, vindo na sequência dos oito anos de presença militar brutal de Washington no Iraque a qual destruiu US$500 mil milhões de infraestrutura iraquiana, segundo estimativas oficiais de Bagdad. Só uma administração iludida poderia imaginar que umas flores de retórica, uma visita de três dias e o financiamento de uma ONG são um contra-peso adequado aos profundos laços económicos que ligam Myanmar à China. O mesmo posicionamento ilusório acompanha todo o repertório de políticas que informam os esforços do regime Obama para deslocar o papel predominante da China na Ásia.

Se bem que a política adoptada pelo regime Obama não apresente, em si mesma, uma ameaça imediata à paz, o impacto acumulado de todos estes pronunciamentos políticos e projecções de poder militar desenvolvem-se como um esforço abrangente total para isolar, intimida e degradar a ascensão da China como uma potência regional e global. O cerco militar e as alianças, a exclusão da China nas associações económicas regionais propostas, a intervenção com tomada de partido em disputas marítimas regionais e o posicionamento de aviões de guerra tecnologicamente avançados, estão destinados a minar a competitividade da China e a compensar a inferioridade económica dos EUA através de redes políticas e económicas fechadas.

Os movimentos militares e económicos da Casa Branca e a demagogia anti-chinesa no Congresso dos EUA são claramente destinados a enfraquecer a posição comercial da China e a obrigar seus líderes voltados para os negócios a privilegiarem interesses da banca e dos negócios dos EUA além das suas próprias empresas. Levada aos seus limites, a prioridade de Obama à grande pressão militar poderia levar a uma ruptura catastrófica nas relações económicas EUA-China. Isto resultaria em consequências calamitosas, especialmente mas não exclusivamente, na economia dos EUA e particularmente no seu sistema financeiro. A China possui mais de US$1,5 milhão de milhões de dólares em dívida americana, principalmente Títulos do Tesouro, e compra a cada ano de US$200 a US$300 mil milhões de novas emissões, uma fonte vital no financiamento do défice dos EUA. Se Obama provocar uma ameaça grave aos interesses da segurança China e Pequim for forçada a responder, a retaliação não será militar mas sim económica: a liquidação de umas poucas centenas de milhares de milhões de títulos do tesouro e a redução de novas compras de dívida estado-unidense. O défice dos EUA disparará, suas classificações de crédito descerão para a categoria "lixo" e o sistema financeiro tremerá à beira do colapso. As taxas de juro para atrair novos compradores de dívida dos EUA aproximar-se-ão dos dois dígitos. As exportações chinesas para os EUA sofrerão e verificar-se-ão perdas devido à desvalorização dos Títulos do Tesouro em mãos chinesas. A China diversificou seus mercados por todo o mundo e o seu enorme mercado provavelmente poderia absorver a maior parte do que a China perdesse no exterior no caso de um recuo do mercado estado-unidense.

Enquanto Obama vaga pelo Pacífico a anunciar suas ameaças militares à China e se esforça para isolar economicamente a China do resto da Ásia, a presença económica dos EUA está a desvanecer-se rapidamente do que costumava ser o seu "quintal". Citando um jornalista do Financial Times: "A China é o único espectáculo para a América Latina" ( Financial Times, 23/Nov/2011, p.6). A China deslocou os EUA e a UE com principal parceiro comercial da América Latina; Pequim despejou milhares de milhões em novos investimentos e proporciona empréstimos com juros baixos.

O comércio da China com a Índia, Indonésia, Japão, Paquistão e Vietname está a aumentar a uma taxa muito mais rápida do que a dos EUA. O esforço estado-unidense para construir uma aliança de segurança na Ásia centrada no império baseia-se em fundamentos económicos frágeis. Mesmo a Austrália, a âncora e fulcro do ímpeto militar dos EUA na Ásia, está pesadamente dependente de exportações minerais para a China. Qualquer interrupção militar remeteria a economia australiana para um mergulho.

A economia dos EUA não está em condições de substituir a China como mercado para exportações de mercadorias asiáticas ou da Austrália. Os países asiáticos devem estar agudamente conscientes de que não há vantagem futura em ligarem-se a um império, altamente militarizado, em declínio. Obama e Clinton enganam-se a si próprios se pensam que podem atrair a Ásia para uma aliança a longo prazo. Os asiáticos estão simplesmente a utilizar as aberturas amistosas do regime Obama como um "dispositivo táctico", um truque negocial, para conseguirem melhores termos para assegurar fronteiras marítimas e territoriais com a China.

Washington está iludida se acredita que pode convencer a Ásia a romper laços económicos lucrativos a longo prazo e de grande escala com a China a fim de aderir a uma associação económica exclusiva com tão dúbias perspectivas. Qualquer "reorientação" da Ásia, desde a China até os EUA, exigiria mais do que a presença de força naval e aerotransportada apontada para a China. Exigiria a reestruturação tal das economias dos países asiáticos, da estrutura de classe e da elite militar. Os mais poderosos grupos empresariais da Ásia têm profundas e crescentes ligações com a China/Hong Kong, especialmente entre as dinâmicas elites de negócios transnacionais chinesas na região. Uma viragem em direcção a Washington implica uma contra-revolução maciça, que substitua "compradores" coloniais por empresários estabelecidos. Quando muito alguns oficiais militares asiáticos treinados nos EUA, economistas e antigos financeiros da Wall Street e bilionários podem procurar "equilibrar" uma presença militar estado-unidense com poder económico chinês, mas eles devem perceber que em última análise a vantagem está em desenvolver uma solução asiática.

A era dos "capitalistas compradores" asiáticos, desejosos de liquidar a indústria nacional e a soberania em troca de acesso privilegiado a mercados dos EUA, é história antiga. Qualquer que seja o ilimitado entusiasmo por consumismo de luxo e estilos de vida ocidentais, os quais os novos ricos da Ásia e da China celebram descuidadamente, qualquer que seja a aceitação das desigualdades e da exploração capitalista selvagem do trabalho, há o reconhecimento de que a história passada da dominação estado-unidense e europeia impediu o crescimento e o enriquecimento de uma burguesia e classe média indígenas. Os discursos e pronunciamentos de Obama e Clinton exalam nostalgia por um passado de supervisores neocoloniais e compradores colaboracionistas – uma ilusão tola. Suas tentativas de realismo político assumem uma feição bizarra ao imaginarem que posicionamentos militares e projecções de força armada reduzirão a China a um actor marginal na região.

A escalada da confrontação de Obama em relação à Rússia 

O regime Obama lançou uma grande investida militar frontal sobre as fronteiras da Rússia. Os EUA avançaram sítios de mísseis e bases da Força Aérea na Polónia, Roménia, Turquia, Espanha, República Checa e Bulgária: complexos de mísseis anti-aéreos Patriot PAC-3 na Polónia; radar avançado AN/PPY-2 na Turquia e vários mísseis (SM-3 IA) embarcados em navios de guerra na Espanha estão entre as armas mais importantes que cercam a Rússia, a maior apenas a minutos do seu alvo estratégico. Em segundo lugar, o regime Obama fez um enorme esforço para assegurar e expandir bases militares dos EUA na Ásia Central entre antigas repúblicas soviéticas. Em terceiro, Washington, através da NATO, lançou grandes operações económicas e militares contra os principais parceiros comerciais da Rússia na África do Norte e Médio Oriente. A guerra da NATO contra a Líbia, que derrubou o regime Kadafi, paralisou ou anulou investimentos russos de milhares de milhões de dólares em petróleo e gás, vendas de armas e substituiu o antigo regime amigo da Rússia por um fantoche da NATO.

As sanções económicas ONU-NATO e a actividade terrorista clandestina EUA-Israel contra o Irão minaram o lucrativo comércio nuclear da Rússia, de milhares de milhões de dólares, e empreendimentos petrolíferos conjuntos. A NATO, incluindo a Turquia, apoiada pelas ditaduras monárquicas do Golfo, impuseram duras sanções e financiaram assaltos terroristas à Síria, o último aliado remanescente da Rússia na região e onde ela tem a sua única instalação naval (Tartus) no Mar Mediterrâneo. A anterior colaboração da Rússia com a NATO enfraquecendo a sua própria posição económica e de segurança é produto da monumental má interpretação da NATO e especialmente das políticas imperiais de Obama. O presidente russo Medvedev e seu antigo ministro dos Estrangeiros, Sergey Lavrov, assumiram erradamente (tal como Gorbachev e Yeltsin antes deles) que apoiar políticas da NATO contra parceiros comerciais da Rússia resultaria em alguma espécie de "reciprocidade". o desmantelamento americano da sua ofensiva "missile shield" nas suas fronteiras e apoio para a admissão da Rússia na Organização Mundial do Comércio. Medvedev, seguindo suas liberais ilusões pró ocidentais, entrou na linha e apoiou sanções estado-unidenses-israelenses contra o Irão, acreditando nos contos de um "programa de armas nucleares". A seguir Lavrov entrou na linha da NATO de "zonas de interdição de voo para proteger vidas de civis líbios" e votou a favor, só com um "protesto" delicado, demasiado tardio, de que a NATO estava a "exceder o seu mandato" ao bombardear a Líbia, regredi-la à Idade Média e instalar um regime fantoche pró NATO de patifes e fundamentalistas. Finalmente, quando os EUA apontaram um punhal ao coração da Rússia, fazendo um enorme esforço para instalar sítios de lançamento de mísseis a 5 minutos de Moscovo ao mesmo tempo que organizava assaltos armados à Síria, a dupla Medvedev-Lavrov acordou do seu estupor e opôs-se a sanções da ONU. Medvedev ameaçou abandonar o tratado de redução de mísseis nucleares (START) e colocar mísseis de médio alcance a 5 minutos de Berlim, Paris e Londres.

A política de consolidação e cooperação de Medvedev-Lavrov, baseada na retórica de Obama de "redefinição de relações" ("resetting relations")encoraja a agressiva construção do império: Cada capitulação levava a uma nova agressão. Em consequência, a Rússia está cercada por mísseis na sua fronteira ocidental; ela sofreu perdas entre os seus principais parceiros comerciais no Médio Oriente e enfrenta bases dos EUA no Sudoeste e na Ásia Central.

Tardiamente responsáveis russos mexeram-se para substituir o iludido Medvedev pelo realista Putin, como presidente seguinte. Esta mudança para uma política realista previsivelmente provocou uma onda de hostilidade a Putin em todos os media ocidentais. A agressiva política de Obama para isolar a Rússia através da minagem de regimes independentes não afectou, contudo, o status da Rússia como potência com armas nucleares. Ela apenas aumentou tensões na Europa e talvez tenha encerrado qualquer oportunidade futura de redução pacífica de armas nucleares ou esforços para assegurar um consenso no Conselho de Segurança da ONU sobre questões de resolução pacífica de conflitos. Washington, sob Obama-Clinton, transformou a Rússia de um cliente acomodatício num grande adversário.

Putin encara o aprofundamento e expansão de laços com o Leste, nomeadmente a China, face às ameaças do Ocidente. A combinação de tecnologia de armas avançadas e recursos energéticos russos e de dinâmica manufactureira e crescimento industrial chinês são mais do que suficientes para as economias infestadas de crise dos EUA e da UE a chafurdarem na estagnação.

A confrontação militar de Obama contra a Rússia prejudicará muito acesso da mesma a matérias-primas e impedirá definitivamente qualquer acordo estratégico de segurança a longo prazo, o qual seria útil para reduzir o défice e reviver a economia estado-unidense.

Entre realismo e ilusão: O realinhamento estratégico de Obama 

O reconhecimento de Obama de que o centro presente e futuro da política e do poder económico está a mover-se inexoravelmente para a Ásia foi um lampejo de realismo político. Depois de durante uma década despejar centenas de milhares de milhões de dólares em aventuras militares nas margens e na periferia da política mundial, Washington finalmente descobriu que não é o lugar onde o destino das nações, especialmente as Grandes Potências, será decidido, excepto num sentido negativo – de sangria recursos sobre causas perdidas. O novo realismo e prioridades de Obama aparentemente estão centrados no Sudeste e Nordeste da Ásia, onde economias dinâmicas florescem, mercados estão em crescimento a uma taxa com dois dígitos, investidores preparam dezenas de milhares de milhões de actividade produtiva e o comércio expande-se três vezes mais do que o dos EUA e da UE.

Mas o "Novo realismo" de Obama é destruído por suposições totalmente ilusórias, as quais minam quaisquer esforços sérios para realinhar a política dos EUA.

Em primeiro lugar, o esforço de Obama para "entrar" na Ásia é através de uma acumulação de meios militares e não através de um aperfeiçoamento e melhoria da competitividade económica estado-unidense. O que é que os EUA produzem para os países asiáticos que promova sua fatia de mercado? Além de armas, aviões e agricultura, os EUA têm poucas indústrias competitivas. Os EUA teriam de reorientar amplamente sua economia, melhorar o trabalho qualificado e transferir milhares de milhões da "segurança" e do militarismo para a aplicação de inovações. Mas Obama trabalha dentro do actual complexo financeiro militarista-sionista. Ele não conhece qualquer outro e é incapaz de romper com ele.

Em segundo lugar, Obama-Clinton operam sob a ilusão de que os EUA podem excluir a China ou minimizar o seu papel na Ásia, uma política que é enfraquecida pelo investimento enorme e crescente, e a presença, de todas as grandes corporações multinacionais dos EUA na China, as quais utilizam-na como uma plataforma de exportação para a Ásia e o resto do mundo.

A acumulação militar dos EUA e a sua política de intimidação forçarão a China a reduzir o seu papel como credor que financia a dívida estado-unidense, uma política que a China pode realizar porque o mercado dos EUA, se bem que ainda importante, está em declínio, pois a China expande a sua presença no seu mercado interno e nos da Ásia, América Latina e Europa.

O que antes parecia ser Novo realismo revela-se agora ser a reciclagem de Velhas ilusões. A noção de que os EUA podem voltar a ser a Potência suprema no Pacífico era do pós Segunda Guerra Mundial. As tentativas dos EUA sob Obama-Clinton para retornar à dominação do Pacífico, com uma economia avariada, com o fardo de uma economia super-militarizada e com grandes desvantagens estratégicas: Ao longo da última década a política externa dos Estados Unidos esteve nas mãos da quinta coluna de Israel (o "lobby" israelense). Toda a classe política estado-unidense é destituída de senso comum, prático e projecto nacional. Eles estão imersos em debates trogloditas sobre "detenções indefinidas" e "expulsões em massa de imigrantes". Pior: estão todos nas folhas de pagamento de corporações privadas que vendem nos EUA e investem na China.

Por que Obama renunciaria a guerras custosas na periferia não lucrativa e a seguir promoveria a mesma metafísica militar no centro dinâmico do universo económico mundial? Será que Barack Obama e seus conselheiros acreditam que ele é o Segundo Advento do Almirante Perry, cujos navios de guerra no século XIX através de bloqueios obrigaram a Ásia a abrir-se ao comércio ocidental? Acreditará ele que alianças militares serão a primeira etapa para um período subsequente de presença económica privilegiada?

Acreditará Obama que o seu regime pode bloquear a China, tal como Washington fez com o Japão nos dias que precederam a Segunda Guerra Mundial? É demasiado tarde. A China é muito mais central para a economia do mundo, demasiado vital mesmo para o financiamento da dívida dos EUA, demasiado soldada às corporações multinacionais do Forbes 500. Provocar a China, mesmo fantasiar acerca da "exclusão" económica para deitar abaixo a China, é perseguir políticas que abalarão totalmente a economia mundial, em primeiro lugar e acima de tudo a economia dos EUA!

Conclusão 

O "realismo de pacotilha" de Obama, sua comutação das guerra no mundo muçulmano para a confrontação militar na Ásia, não tem valor intrínseco e coloca custos extrínsecos extraordinários. Os métodos militares e os objectivos económicos são totalmente incompatíveis e para além da capacidade dos EUA, como estão actualmente constituídos. As políticas de Washington não "enfraquecerão" a Rússia ou a China, muito menos a intimidarão. Ao invés disso, irá encorajar ambos a adoptarem posições mais adversas, tornando menos provável que ajudem as guerras sequenciais de Obama em proveito de Israel. A Rússia já enviou navios de guerra ao seu porto na Síria, recusou-se a apoiar um embargo de armas contra a Síria e o Irão e (em retrospectiva) criticou a guerra da NATO contra a Líbia. A China e a Rússia têm demasiados laços estratégicos com a economia do mundo para sofrerem quaisquer grandes perdas de uma série de postos avançados militares dos EUA e de alianças "exclusivas". A Rússia pode apontar tantos mísseis nucleares para o ocidente quanto os EUA podem montá-los nas suas bases na Europa do Leste.

Por outras palavras, a escalada militar de Obama não mudará o equilíbrio de poder nuclear, mas levará a Rússia e a China para uma relação mais estreita e aliança mais profunda. Ultrapassados estão os dias da estratégia "divida e conquista" de Kissinger-Nixon contrapondo acordos comerciais EUA-China contra armas russas. Washington exagerou totalmente a significância das actuais querelas marítimas entre a China e seus vizinhos. O que os une em termos económicos é muito mais importante no médio e longo prazo. As ligações económicas asiáticas da China desgastarão quaisquer ténues ligações militares aos EUA.

O "realismo de pacotilha" de Obama vê o mercado mundial através de lentes militares. A arrogância militar em relação à Ásia levou à ruptura com o Paquistão, seu regime cliente mais dócil na Ásia. A NATO deliberadamente chacinou 24 soldados paquistaneses e esfregou-os no nariz dos generais paquistaneses, ao passo que a China e a Rússia condenaram o ataque e ganharam influência.

No final das contas, o posicionamento militar e excludente da China fracassará. Washington exagerou a sua mão e afugentou da sua anterior orientação para os negócios os parceiros asiáticos, os quais só querem utilizar a presença militar dos EUA para ganharem vantagem económica táctica. Eles certamente não querem uma nova "Guerra fria" instigada pelos EUA que divida e enfraqueça o dinâmico comércio e investimento intra-asiático. Obama e os seus apaniguados aprenderão rapidamente que os actuais líderes da Ásia não têm aliados permanentes – apenas interesses permanentes. Na análise final, a China apresenta-se de forma destacada na configuração de uma nova economia mundial centro-asiáticas. Washington pode afirmar ter uma "presença permanente no Pacífico" mas até que demonstre que pode cuidar do seu "negócio básico em casa", como reparar as suas próprias finanças e equilibrar seus défices de transacções correntes, o comando naval dos EUA pode acabar por arrendar suas instalações marítimas a exportadores transportadores asiáticos, que transportam bens para eles, e protegendo-os perseguindo piratas, contrabandistas e narco-traficantes.

Se chegar a pensar acerca disto, Obama pode reduzir o défice comercial dos EUA com a Ásia pelo arrendamento da Sétima Frota a fim de patrulhar estreitos, ao invés de desperdiçar o dinheiro do contribuinte estado-unidense a intimidar potências económicas asiáticas.

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